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Você tem sede de que?

Costumo brincar – embora essa doença seja motivo para chorar e não para rir – que não virei alcolista na infância/adolescência porque não aprendi a apreciar a bebida, muito embora as condições familiares fossem propícias. Por favor, não vá pensar que estou afirmando que alguém da minha família sofre(ia) dessa doença. O que quero dizer é que a bebida alcoólica sempre esteve presente na minha casa, sendo que, desde meus 7 ou 8 anos, meu pai possui um bar em casa, feito de madeira (que ele mesmo ajudou a construir), no qual sempre estiveram expostas as mais variadas bebidas, de fermentadas (cerveja) a destiladas (cachaça).

Nem eu, nem meu irmão (esse bebe menos ainda), nunca pegamos sequer um gole dessas bebidas às escondidas. Aliás (atitude irresponsável do meu pai, que hoje assim analiso, mas, à época, não percebia o latente risco), meu pai quem sempre nos ofereceu as bebidas, ficando chateado por não ter companheiros para suas caipirinhas no final de tarde. Mas como boa filha que sou, fui eleita e aceitei o cargo de experimentadora oficial de suas caipirinhas, isso, claro, sem nunca extrapolar os pequenos goles dessa mistura gelada de cachaça (vodka é para os frescos, rs), limão galego e mel (quase um bebida para gripe, não?).

Brincadeiras à parte, o que gostaria de dizer é que as bebidas alcoólicas sempre estiveram inseridas em minha vida, muito embora não necessariamente em minha boca. Nem mesmo quando comecei minhas aventuras juvenis – com a amiga Cris e nossos amigos beberrões, lá no longínquo 1995 – fui capaz de tomar um porre ou passar mal em decorrência da bebida.

Saibam que passei os 5 anos de faculdade – já morando bem longe dos pais (ainda que esses nunca tivessem sido um problema para o consumo de bebida) – sem vexames alcoolísticos (o que não significa que os vexames não fossem meus fiéis companheiros, mas nunca precisei do álcool para tanto).

Até sete meses atrás eu me contentava com uma taça de vinho uma vez por mês e uma weiss da Bohemia lá de vez em quando, achando isso o máximo da apreciação.

Quanta mudança desde então. Em minha vida foram inseridas as mais variadas iguarias: como o vinho, com a ajuda da amiga Beta; a tequila, com a amiga Renata; e, a grande surpresa, a cerveja, com o namorado.

Com tantas mudanças e em tão pouco tempo, só posso chegar à conclusão de que, na verdade, nunca havia sido bem apresentada às bebidas alcoólicas. Como poderia ser diferente se acreditava que Coca-Cola seria a harmonização perfeita para qualquer prato e diante de cervejas (?) que mais parecem água?

A cerveja, a bem da verdade, foi a grande surpresa, já que me limitava, no verão escaldante, a dividir uma latinha de skol (oi?) com meu pai. Mas não tinha como ser diferente, uma vez que conheci o namorado assim, apreciando essa bebida, sendo nosso primeiro encontro em um boteco especializado em cervejas, com ele me explicando cada uma das degustadas. Tudo bem,  eu estava sentada ao lado de um profissional, o qual pouco tempo depois estaria me conquistando definitivamente pelo estômago e me ensinando a perceber a importância de cada cerveja com o prato servido.

A má-fé dele, à época, hoje bem evidencio: estava eu sendo inserida, lentamente, no mundo das harmonizações com cerveja, sem desconfiar que isso se tornaria minha perdição. Afinal, quem quer almoçar no bandejão do trabalho – com uvas passas e abacaxis inseridos nos mais variados (e estranhos) pratos, com massas molengas e molhos inidentificáveis – quando teve, no dia anterior, a combinação de uma espetacular salada com uma especialíssima cerveja?

Estava, portanto, oficialmente aberta a temporada de buscas por novos sabores, da apuração dos sentidos e dos incentivos ao namorado para que produza, logo, sua própria cerveja – permitindo-me, por certo, dar pitacos e escolher os ingredientes inseridos naquela que, por exemplo, será servida em meu aniversárioo, em janeiro.

Foi por essa e por outras que, sábado passado (27 de novembro de 2010), pegamos os amigos e viajamos mais de 150Km atrás de novos sabores, em direção ao Festival Brasileiro da Cerveja, na cidade Blumenau/SC.

Ocupava um pavilhão inteiro da Vila Germânica – local onde ocorre a famosíssima Oktoberfest -, com estandes que se dividiam, harmonicamente, entre microcervejarias, empórios e cervejeiros artesanais, todos enriquecendo o cenário nacional com uma rica gama de sabores, criatividade na confeção dos rótulos e nomes, sotaques dos mais variados e aromas percebidos antes mesmo de se aproximar o copo à boca.

Lá pude experimentar a Nora e, finalmente, ter algo em comum com a jornalista Ailin Aleixo (pessoa com quem raramente coaduno os pensamentos): ela (a cerveja, óbvio) me encantou completamente.

Cerveja elaborada com especiarias e, assim como as demais de sua linha, elaborada para homenagear os familiares do cervejeiro, no caso, sua esposa. Daí a inspriração para fazer uma bebida licorosa, intensa, aromática, com toque de abacaxi em calda e com 6.8% de teor alcoólico.

Provavelmente a harmonização (?) com a comida típica dos ingleses – fish and chips, servido pelo The Basement English Pub – não foi a mais adequada. Mas era o que tínhamos para o momento e confesso que isso não me impediu de apreciar todas as características dessa iguaria.

A Nora foi adquirida no estande do Empório São Patrício, cujos proprietários – Julio e Marcos – são de uma atenção e respeito no atendimento que Florianópolis não está acostumada a ter. Ponto para Balneário Camboriú, que ganha da ilha da magia nesse e em muitos outros aspectos.

Claro que, após provar essa cerveja, fui obrigada a adquirir outra, com a qual presentearei meu pai no Natal (ele nem sabe na existência deste blog, logo não corro o risco de estar estragando a surpresa do seu presente). Percebam minha má-fé com esse presente, já que a entrega será precedida de um “vamos degustá-la juntos?”.

O Festival também contava com palestras gratuitas dos mais variados profissionais do mundo cervejeiro e da gastronomia, sendo que pude assistir, tão somente, a ministrada por Eduardo Passarelli, criador do site Edu Recomenda e proprietário do empório/forneria Melograno.

Confesso que o ponto alto de sua explanação foi ao final, quando abriu a possibilidade de perguntas pelos que o assistiam, momento em que o questionei sobre a harmonização perfeita para macarrão instantâneo nissin. Trivial e aparentemente tola, o questionamento mostrou-se um dos mais difíceis a ser respondido por esse grande profissional das harmonizações, terminando por reconhecer sua  também paixão – antes inconfessa – por esse tipo de massa.

A grande surpresa do dia, contudo, ficou por conta dos sempre adoráveis mineiros, que me encantam há anos com as suas mais variadas iguarias, bem como com seu jeito cativante de receber os amigos. Sim, amigos, porque é impossível não iniciar uma amizade após míseros 5 minutos de conversa com eles.

Estou falando da Wals Cervejas Especiais, dos irmãos José Felipe e Thiago, situada na cidade de Belo Horizonte/MG. Muito embora eu já conhecesse grande parte das cervejas produzidas por esses dois moleques danados de simpáticos, sendo grande fã (fã mesmo, daquelas que faz propaganda para todo mundo) da Quadruppel, pude perceber que, muito embora grande o esforço deles para manter a excelência de qualidade de seus produtos, os revendedores de Florianópolis não possuem esse mesmo empenho.

Provei uma Dubbel – com a qual tinha sérias reticências, pois sempre com um gostinho azedo decorrente de sua oxidação – cujo sabor e aroma foram capazes de me fazer questionar se a Quadruppel continua sendo a minha cerveja preferida. E digo cerveja preferida porque, de todas até hoje provadas, com certeza as Wals foram eleitas como as melhores – e não preciso puxar o saco de ninguém ao afirmar isso – , principalmente se analisada sob a ótica custo x benefício. Comparada com a Nora e seus R$ 50,00 – promocionais, frise-se -, as Wals e suas boas supresas ganha disparado com seus R$ 28,00.

Não há razão, contudo, para falar de valores quando me refiro às Wals degustadas no Festival, já que não desembolsei um centavo para beber dos chopps Trippel, Quadruppel, FestiWals e, da nova criação, a cerveja Brut – sequer lançada no mercado, com poucos felizardos tendo o prazer de prová-la -, pois todos me foram presenteados pelo apaixonante (sem ciúmes, namorado) José Felipe.

Mineirinho, daqueles que dá vontade vontade de conversas horas a fio, José Felipe é um entusiasta das cervejas, transparecendo todo seu carinho e paixão pelo que faz em cada frase utilizada para descrever seu ofício.

E está indo no caminho certo. Cervejeiro desde os 16 anos – hoje com 25 e dez anos de uma história de muito sucesso, que só tende a aumentar -, conseguiu conquistar até mesmo o paladar limitado  para cervejas da amiga Renata, que arregalou os olhos e confessou ter, finalmente, gostado de uma (no caso, o chopp Quadruppel).

Saí desse estande ainda mais encantada por cerveja e com a confirmação de que os mineiros são, sim, os melhores anfitriões deste país, comprovando que é com carinho e responsabilidade que se conquista o sucesso.

Claro que não saí de lá com as mãos vazias, tendo adquirido um Kit (Dubbel + 2 taças) com o qual presentearei minha(eu) amiga(o) secreta(o) do trabalho, com a certeza de que trarei mais um fã para o mundo da cerveja.

Não poderia deixar de destacar que muitas outras foram as cervejas apreciadas no Festival – a maioria apenas provada nos copos alheios, tudo isso regado a boas músicas e pessoas encantadoras – principalmente a ótima companhia dos amigos Edu e Re -, estando de parabéns a organização do evento e os responsáveis pelos estandes.

Posso dizer que estou aprendendo a apreciar as bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja, com o comedimento necessário, por certo.

Para felicidade do namorado, afirmo hoje que tenho sede de cerveja. E você, tem sede de que?

PS1: em breve o namorado sorteará no blog/twitter um Kit (cerveja + caneco) da Wals, cedido gentilmente pelo simpaticíssimo João Felipe. Não percam.
PS2: alguns aniversariantes queridos deste mês de dezembro serão presenteados com regalos do Festival. Mas fica aqui a curiosidade.