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Eis que a “obsolescência programada” invade a minha casa

Ultimamente, em razão das atualizações absolutamente esporádicas deste blog, os temas parecem que me empurram à escrita, a ponto de se tornar imperiosa a necessidade de vir aqui escrever. Dessa vez não foi diferente, já que há cerca de duas semanas vi o documentário acima e pensei em falar sobre o assunto. Como de costume – ao menos nas últimas semanas -, o post foi sendo protelado até que, então, o tema invadiu minha vida de alguma forma. No caso, com grandes repercussões (negativas) financeiras: minha TV e meu aparelho de depilação morreram no mesmo final de semana.

Claro que essas coisas parecem acontecer justamente quando a grana está curto e a troca dos aparelhos não pode ser efetuada de imediato. Mas o que me chamou a atenção dessa vez, até porque havia assistido há poucos dias o documentário Comprar, tirar, comprar, foi justamente o uso daquele verbo ali da frase anterior: TROCAR. Afinal, alguém hoje em dia – refiro-me à classe média – ainda realiza o conserto de seus equipamentos eletrônicos no lugar de trocá-los?

Não estou criticando as pessoas que realizam as trocas de seus equipamentos antes mesmo de tentarem consertá-los, já que, no mais das vezes, ou essa tarefa é muito difícil, ou muito dispendiosa se comparada com a compra de um novo aparelho. Hoje, quando adquirimos um produto, sabemos de antemão seu prazo de usabilidade. E este não está relacionado unicamente a sua vida útil, ou seja, sua capacidade de funcionamento, mas também ao desejo latente de ser substituído por um mais moderno.

Eu mesma, ao me deparar com a imagem sumindo na minha velha TV de 29 polegadas, com mais de 30cm de profundidade, logo pensei: agora, finalmente, a troco por uma de LCD, Plasma ou LED. Foram, portanto, ambas as modalidades de obsolescência programada possíveis: aparelho estragrado e desejo pelo modelo mais moderno.

Steve Jobs, por exemplo – já que há pouco tempo adquiri, pela primeira vez, um produto Apple e parece-me interessante usá-lo como tema -, é um grande ícone da obsolescência programada escancarada, já que quando do lançamento de cada um de seus novos produtos, algum ponto é, como se por descuido, deixado para trás, sendo, então, resolvido na versão posterior, influenciando o consumismo das pessoas, que, assim como seu aparelhos, sentem-se obsoletas e fora de moda.

Atingimos, portanto, o nível mais crítico da obolescência programada, uma vez que não mais se apresenta necessário o cartel das lâmpadas, como narra o início do documentário acima. A obsolescência trabalha agora com a sedução do público e a falsa idéia de liberdade de compra, já que todo o mercado de design, publicidade etc. está voltado a nos convencer que precisamos do produto novo, ainda que aquele que tenhamos em casa se encontre absolutamente apto para as funcionalidades que se prestam e, mais, às que realmente necessitamos.

Na compra de meu primeiro Apple, aliás, detinha um smartphone com todas as suas funcionalidades em perfeitas condições, mas sucumbi ao desejo e à falsa impressão de que minha felicidade dependia de um IPhone. Além disso, ao procurar pelos modelos mais antigos – 3GS, que há pouco era o mais novo no mercado -, fui informada de que não era mais possível encontrá-los, já que apenas o modelo 4 estava à venda nas lojas. Claro que, da mesma maneira, fui alertada pela vendedora que o modelo 5 (ou sabe-se lá como o vão intitular) logo logo está aí e você nem vai ter acabado por pagar por este.

Não há dúvida que, em termos de mercado e circulação de renda, a obsolescência programada prestra-se muito bem a garantir suas vidas úteis e a criação de diversos empregos, mas, principalmente, ao enriquecimento dos produtores/fornecedores. Contudo, pensando em um planeta com recursos finitos, até quando seremos capazes de sustentar esse consumo psicótico e a produção de lixo em escala geométrica?

 

O mundo é suficientemente grande para satisfazer a necessidade de todos, mas demasiadamente pequeno para a ganância de algunsGandhi

 

PS1: tomei conhecimento desse documentário pelo twitter do Malvados, retirado do seguinte blog: http://www.ideafixa.com/comprar-tirar-comprar/
PS2: post curto. Apesar de o assunto ser muito interessante, não ando com muita vontade de debater (lato sensu).
PS3: o documentário é longo, mas muito bom. Assistam quando puderem.